Engana-se quem diz, quado se perde alguma coisa, "Nesta casa não há buracos!". Em quase todas as casas há buracos.
Uma vez ia a entrar na cozinha e cai-me um quatro e um sete do tamanho de berlindes. Ontem, quando desmontava um forro debaixo das escadas que dão para o sotão, apareceu-me um cromo de D. Afonso Henriques suspenso por uma fina teia. Um quatro, um sete e D. Afonso Henriques... Há que saber interpretar os sinais.
Numa casa antiga há sempre buracos de onde caem objectos e buracos para onde saltam objectos. Engana-se também quem disser que os objectos não são seres vivos. São seres vivos e têm personalidades bem diferentes. Há estes que se divertem a circular no tempo. Desaparecendo da vida de umas pessoas e aparecendo na vida de outras. São os livres. E há os melgas. Aqueles dos quais não gostamos e que não desaparecem da nossa vida. Abrimos o guarda-jóias e lá está aquele brinco de feira de artesanato foleira a suplicar: "Usa-me..." "Não!". Ou aquela BIC que nos acompanha há doze anos, eternamente em fim de carga e que aparece de cada vez que se abre uma gaveta. Provavelmente a única responsável pelo inexplicável desaparecimento da nossa caneta preferida que guardamos religiosamente num local seguro.
Passo a semana em obras, na luta anti-buraco, mas fico com pena de aprisionar os objectos no tempo.
terça-feira, 18 de março de 2008
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