quinta-feira, 2 de outubro de 2008

domingo, 7 de setembro de 2008

Prenda de anos!

De que maneira melhor posso agradecer a vossa mais que simpática prenda do que fotografando? Aqui vai uma das primeiras.


Um abraço para a Anabela, a Ângela (estava a roer-se mas não se descoseu), a Berta, a Bruna, o César (comissão organizadora, fajardo, e eu que não desconfiei de nada!), o Elói (a dormir comigo e não se descoseu...), o Gabriel, a Joana, o João, a Marta (minha querida enfermeira… estive com ela e não suspeitei…) o Nuno, o Óskar (tão longe e por dentro de tudo…), o Rafael e o Telmo. Obrigada a todos, adorei!
Estou um pouco preocupada por poderem ter gasto muito dinheiro… Deu muito a cada um?... Coitadinhos…
Já vou ter máquina para fotografar a pulginha quando nascer!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A Maria está grávida!

Pois é, parece que a nossa amiga está grávida!
E aqui está o diário dela:
http://diariodeumaoutragravida.blogspot.com/

sábado, 26 de julho de 2008

Do baú – Viagem de comboio passando por Penafiel

A rivalidade que existe entre pessoas que gostam das mesmas coisas! Sentou-se aqui ao pé de mim, à saída de Penafiel, um rapaz com um sorriso de quem está pronto para meter conversa. Eu sorrio rápido e desvio o olhar. Pego no “Tempo dos Assassinos” de Henry Miller e imagino que primeiro vai olhar disfarçadamente para o livro e depois insistentemente. Até eu olhar para ele. Seria aí que ele diria: “Gosta de ler? O que é que está a ler? Eu também gosto muito de ler. Gosto muito de Almeida Garrett… E eu pensaria imediatamente: “Detesto Almeida Garrett! Quando é que chego ao meu destino?” E no entanto ambos gostamos de ler. Mas aquele espírito adolescente de clube persegue-nos até ao fim da vida. Eu continuo a achar-me pertencer ao clube dos “fixes”tal como quando pensei lá entrar aos quinze anos! Detesto clubismos e bairrismos. Amo tudo o que é intemporal e “inespacial”. Mas as minhas circunstanciazinhas reduzem-me tanto as perspectivas que olharei para ele com desprezo.
Para quando o verdadeiro amor à vida, ao mundo e à humanidade que nos tornará mais Grandes? Quando acabaremos com essas fronteiras que nos dividem por países, por clubes de futebol, por estilos, por níveis? A única fronteira que desejo é a dos indivíduos. Aquilo que me diferencia do outro. Para quando esse homem Grande igual a todos os homens e único no mundo?
Penafiel, o lugar da regueifa. Parece ser a mesma mulher da minha infância, o pregão tem a mesma sonoridade. Uma sonoridade de quem está a chegar a casa da avó, dos primos, às brincadeiras…

Outubro / Novembro de 1995

Do baú para o meu amor (depois da frequência de Arqueologia Medieval)

O meu castelo não tem adarve
nem ameias
e no entanto eu faço a ronda
espreitando pelas abertas
para te ver chegar

O meu castelo não tem barbacãs
nem tão pouco muralhas
as portas estão sempre abertas

A torre de menagem
onde eu estou
tem as portas escancaradas:
podes entrar!

Só quando tu sobes à minha torre
que é quase ao pé do céu
é que eu ergo as muralhas e as barbacãs
fecho as portas
e puxo a escada

11 de Março de 1996

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Reciclagem de óleos alimentares

A AMI pediu para divulgar, um amigo passou a citar e eu recito porque está aqui uma coisa verdadeiramente importante para fazermos todos:
"Pela primeira vez, vai passar a existir em Portugal, uma resposta de âmbito nacional para o destino dos óleos alimentares usados. A partir de dia 15 de Julho, a AMI lança ao público este projecto que conta já com a participação de milhares de restaurantes, hotéis, cantinas, escolas, Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais.Quando lançados nas redes de drenagem de águas residuais, os óleos poluem e obstruem os filtros existentes nas ETAR’s, tornando-se assim um grande obstáculo ao seu bom funcionamento.Os cidadãos que queiram entregar os óleos alimentares usados, poderão fazê-lo a partir de agora. Para tal, poderão fazer a entrega numa garrafa fechada, dirigindo-se a um dos restaurantes aderentes, que se encontram identificados e cuja listagem poderá ser consultada no site www.ami.org.pt.Ao aderir ao projecto de Recolha de Óleos Alimentares Usados não só evita a poluição da água como está a transformar o óleo em Biodiesel, uma fonte renovável de energia que diminui as emissões de CO2. Além disso, cada litro de óleo será transformado num donativo para ajudar a AMI na luta contra a exclusão social em Portugal."

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Lua

Tenho vivido com os elementos e os sons a invadir-me o sono. Não tenho portadas nem cortinas. Todos os dias desde madrugada o sol roda em torno do meu ouvido e sopra “Acorda…”. Hoje foi a lua. Parou em frente à janela e lançou-me um feixe de luz. Primeiro integrei-a nos meus sonhos e depois abri os olhos. Lá estava ela, cheia e gorda, uma espécie de cowboy de todos os tempos apontando a sua arma.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Alma do outro mundo

E quando uma alma do outro mundo nos olha nos olhos e nos apaixonamos?



Fotografia de Platão Mendes, anos 30

sexta-feira, 20 de junho de 2008












Viagem a Tarragona






Obrigada por nos terem recebido tão bem!

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Onde é que tu estavas quando se quis construir uma barragem no Côa?

Eu estava lá. Dedicando quase todo o meu tempo a tentar impedir um gigante. Como eramos muitos liliputianos, conseguimos. Como mudou o cenário político, conseguimos. Enquanto empurrávamos, de forma tão desajeitada, este monstro feito de finas teias de lobbies, interesses, meandros de escuridão, jogadas de betão, ouvíamos outros liliputianos dizer: Empurra, empurra, tu queres é um tacho... Não deixei de empurrar mas jurei a mim mesma que nunca tiraria dividendos na sequência dessa luta. E segui pela porta estreita. De forma dura e crua: tinha 22 anos, fiz os últimos anos do curso de forma minimalista, quatro cadeiras num ano, não tenho pais ricos, trabalhei para pagar as despesas e trabalhando fui dirigente associativa e membro até ao último momento de um grupo restrito de líricos que acreditavam que valia apena lutar contra a maré para fazer deste planeta um mundo mais habitável. A nossa bandeira dizia: “Não herdamos o planeta dos nossos pais, pedimo-lo emprestado aos nossos filhos”.
Tinha 22 anos, não tinha pais ricos, sabia que a seguir viria o trabalho mas não me preocupava que trabalho, com que ordenado. Tinha certeza que o mais importante era, como diz o poeta José Miguel Silva, chegar a casa com as mãos sujas e o coração limpo.
E comecei, pela porta estreita, tal como me ensinou o deus que abandonei (sou, como disse a minha professora preferida, uma “agnóstica judaico-cristã”). Pela porta estreita, pelo caminho montanhoso, recusei cunhas, recusei decotes. Em consequência, trabelhei até um ano atrás a recibos verdes. Vejo alguns colegas antigos muito bem colocados em cargos públicos, políticos, à frente de empresas, de instituições museológicas... Alguns com mérito, alguns com muito trabalho, alguns com tudo isto e uma ajuda de “boas relações”, “conhecimentos”, “frutos naturais do trabalho de voluntariado”. Outros descaradamente pelo cunha e pelo decote da blusa, pela porta bem larga, pelo portão da quinta, pela propriedade sem muros nem barreiras. Falam como gente honesta, aparecem com um sorriso nas fotografias, com ar de jovens empreendedores. Eu sou o fracasso, eles são o sucesso. Não me posso queixar, foi o caminho que escolhi. Mas posso pelo menos perguntar:

ONDE É QUE TU ESTAVAS QUANDO SE TENTOU CONSTRUIR UMA BARRAGEM NO CÔA?


Às vezes a porta é mesmo muito estreita, às vezes sufoco com este auto estrangulamento que me provoco “ser tolerante para com os outros, implacável contigo próprio”, vou-me tentando poupar seguindo a directiva mundial dos liliputianos megalómanos em tratamento psiquiátrico “ter força para continuar a lutar por aquilo que podemos mudar, ter capacidade para aceitar aquilo que não está ao nosso alcance mudar e discernimento para distinguir uma coisa da outra.

Às vezes penso que a única solução é partir. Os cientistas acreditam poder existir um local, aqui mesmo na nossa galáxia, a "lua azul", com muito oxigénio, florestas de quilómetros de altura e um ar tão denso que até as baleias conseguem voar. Alguém me arranja um bilhete para lá?

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Fugas de Alice Munro


Gostei especialmente do conto "Truques" não só porque é uma bela história de amor mas também pela "moral da história". Porque quando pensamos que algo na nossa vida pode ser programado percebemos que basta um centímetro ao lado, basta abrir uma porta um segundo antes ou depois, para toda a nossa vida ser diferente. Tal como na "Insustentável Leveza do Ser" a nossa vida é determinada por um rendilhado de acasos e o ponto de união de cada uma das linhas é o ponto exacto que determina todo o desenho da nossa tão incontrolável existência. Mas, ao contrário da "Insusentável Leveza do Ser" em que tudo se conjuga para um destino com sentido, aqui o desconcertante é o erro que se inicia nesse ponto e que se amplia tornando toda a existência um engano. É como num tapete de arraiolos em que só na conclusão se percebe que um erro inicial, imperceptível durante todo o processo de construção, comprometeu o resultado final.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Justiça na rua do Almada

Hi! Hi! Hi! Hi! Hi!
Não se deve desejar mal aos outros mas quando se vê um polícia de segurança pública sem barriga, sem bigode, sem perdigotos e sem arbitrariedades, fazer justiça...
Está um chico esperto, típico português com uma mão na buzina e outra nos tomates, na rua do Almada a insultar um velhinho que parou o carro para fazer uma carga numa rua com um sinal que informa “cargas e descargas até às onze horas”. Apesar de informado sobre a dita placa, continuava a fazer justiça pelas suas palavras sábias gritando “Eu é que sou o turista! É o país que temos! Ó não sei quantos” e outras coisas cujo sentido filosófico e dimensão poética se tornava difícil de alcançar. Braços musculados esticados no volante e mulher envergonhada ao lado...
E eis que chega o nosso herói... O balão rapidamente perde ar, murcha, tira os óculos de sol e com um olhar quase felino diz: “sabe o que é senhor agente...” mas não há hipótese: “Encoste ali à frente que vai ser autuado” “Está bem senhor agente...”
Eu cá defendo um polícia de segurança pública para cada português!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Mediocre ou mediana. Mediocre ou mediana. É o que me ocorre de tempos a tempos que sou. Nenhum fracasso em nada, nenhum sucesso em nada. Nunca pus os ovos todos no mesmo cesto, fartei-me foi de espalhar ovos por aí. Essa é a consequência de não se ser persistente em nada. Uma fraca fotógrafa, uma fraca escritista, uma fraca jardineira, uma fraca hortelã, uma fraca arqueóloga, uma fraca amiga, uma fraca mulher. Mas porque havia de ser melhor?
Hoje na aula de yoga o professor disse: Nesta posição o corpo tende a tremer, mas não liguem, é só o vosso corpo não são vocês. Tarde de mais porque eu já tinha cedido e baixado pensando que eu e ele éramos um só.
Mas eu sempre soube que não. Que aquele joelho que esfolei na viela a vir da escola não era meu. Que o meu corpo é um pacote dentro do qual me encontro presa. Fui crescendo assim, com o meu corpo a fugir de mim, comigo a fugir do meu corpo. E sempre a pensar “Porque é que eu sou eu e não tu?” Porque é que eu nasci aqui e não ali? Porque é que eu sou a Teresa e não a Xanda, a Tété, o Pieta, o Piriquito, a Guidinha das Malhas, a Rojona, o Zé Maluco, a Ana Maria, A Bela, o Paulinho, a Agostinha, o meu irmão Miguel, o meu irmão João, a minha prima Zeza ou outro qualquer dessas dezenas de primos?
O meu corpo ginga e eu ando lá dentro aos trambolhões. O meu corpo olha para mim e acha-me estranha. Sempre culpada e comprometida com qualquer coisa que ele fez. Um corpo estranho dentro de mim, uma estranha dentro do meu corpo.
Ultimamente comecei a maltratá-lo. Dou-lhe tabaco, mando-o pegar numa trincha e pintar uma casa inteira, obrigo-o a trabalhar dez horas num dia. Não lhe dou roupa nova.
E ele que só queria prazer… E eu que só queria esquecer-me dele para sempre.

terça-feira, 8 de abril de 2008

LHASA - CON TODA PALABRA

Acreditem, ou não, um dia levantei-me a sonhar e a cantar esta canção. O médico proibiu-me de a ouvir mas vocês podem!

http://br.youtube.com/watch?v=uGNk_zHy4Mg

Mercedes Sosa - Duerme Negrito

Não é a minha preferida da Mercedes Sosa mas é uma bela canção de embalar.

http://br.youtube.com/watch?v=vUZwywZivIY

NINA SIMONE- "DON'T LET ME BE MISUNDERSTOOD" (1964)

Para ouvir, apagar as luzes e a televisão, mandar calar o cão e o gato, colocar o volume no máximo e fechar os olhos.

"DON'T LET ME BE MISUNDERSTOOD" (1964)
http://br.youtube.com/watch?v=5T3FXFnoTzE

Ain't got no(i got life)
http://br.youtube.com/watch?v=SDFiCLNhM8k

Feeling Good
http://br.youtube.com/watch?v=CJA69C6SlRk

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Algum dia há-de ser dia!

Hoje de manhã caminhava pela rua pensando em coisas que ando a remoer há uns anos. Naquele tipo de coisas que nos consomem, que nos moem, naqueles sapitos entalados na garganta que não conseguimos engolir nem regurgitar porque é preciso pôr o pãozito na mesa... É então que uma senhora apoiada numa muleta, que caminhava sozinha, deixa fugir um desabafo de pensamento que a voz soltou: "Algum dia há-de ser dia!" Se fosse um filme musical eu repetia as palavras dela e correriamos pela rua cantando esse refrão e rodando os guarda-chuvas. Mas não é. E eu ouvi e prossegui empurrando mais um pouquito o meu sapinho.

De volta aos buracos

Aqui estou eu de volta ao trabalho. Destapando buracos do tempo...
Encontrando objectos em silêncio que bombardeio de perguntas.

domingo, 23 de março de 2008

Há de tudo em todo o lado

Que melhor expressão que esta para exprimir que independentemente:
da classe social
do país
da religião
da cultura
do sexo
do partido
da cor da pele
da orientação sexual
da profissão
do bairro

(complete a lista, por favor)

se encontrarem pessoas

grandes
belas
inteligentes
honestas
rigorosas
imparciais
solidárias

(complete a lista, por favor)

Ou
trafulhas
arrogantes
mesquinhas
desonestas
egoístas
pequenas...

E a prova disto é frase tão inteligente andar na boca de tanta gente, independentemente

da classe social
cultura
escolaridade
sexo
orientação sexual...

terça-feira, 18 de março de 2008

Nesta casa há buracos!

Engana-se quem diz, quado se perde alguma coisa, "Nesta casa não há buracos!". Em quase todas as casas há buracos.
Uma vez ia a entrar na cozinha e cai-me um quatro e um sete do tamanho de berlindes. Ontem, quando desmontava um forro debaixo das escadas que dão para o sotão, apareceu-me um cromo de D. Afonso Henriques suspenso por uma fina teia. Um quatro, um sete e D. Afonso Henriques... Há que saber interpretar os sinais.
Numa casa antiga há sempre buracos de onde caem objectos e buracos para onde saltam objectos. Engana-se também quem disser que os objectos não são seres vivos. São seres vivos e têm personalidades bem diferentes. Há estes que se divertem a circular no tempo. Desaparecendo da vida de umas pessoas e aparecendo na vida de outras. São os livres. E há os melgas. Aqueles dos quais não gostamos e que não desaparecem da nossa vida. Abrimos o guarda-jóias e lá está aquele brinco de feira de artesanato foleira a suplicar: "Usa-me..." "Não!". Ou aquela BIC que nos acompanha há doze anos, eternamente em fim de carga e que aparece de cada vez que se abre uma gaveta. Provavelmente a única responsável pelo inexplicável desaparecimento da nossa caneta preferida que guardamos religiosamente num local seguro.
Passo a semana em obras, na luta anti-buraco, mas fico com pena de aprisionar os objectos no tempo.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Elliot Erwitt


Basta colocar o nome do meu fotógrafo preferido no google imagens e fico a ler durante uma manhã gente de todo o mundo!

Matemática

Aos 17 anos namorei com um rapaz de 34. Pensava com ele perder para sempre 17 anos de vida. E acho que envelheci aos 17 anos mais 17 anos. E perdi 17 anos. Morri e voltei a nascer. Nestes 17 anos que passaram, recuperei 17 anos da minha vida. Aos 34 anos namorava com um rapaz de 34 anos.

34-17=17+17=34-17=17+17=34-34=0

Dizem que o cosmos está organizado de acordo com leis matemáticas ou que a organização dos cosmos é traduzível para linguagem matemática... Eu sempre tive 1 a matemática. Alguém me sabe dizer se as minhas contas estão certas?
E, já agora, que significa esse zero?

domingo, 16 de março de 2008

Morada Aberta

Eu também já fui essa menina pela mão da sua mãe a ir à bruxa. Entrando num lugar desconhecido, tendo medo até de subir umas escadas como se, de repente, elas pudessem conduzir ao céu ou ao inferno, ali, na Praça da Batalha.

Vem-me buscar

Há uma categoria de seres humanos na qual eu não me incluo. Uma espécie de homens-mulheres-anjos. Não são os seres bondosos clássicos empoeirados de musica celestial que apenas dizem palavras meigas. São seres capazes de adoptar seres em sofrimento, que se aproximam deles no momento em que os outros se afastam.
Fazem-lhes mimos, levantam-nos do chão e levam-os às cavalitas para onde quer que eles queiram ir ou, se eles não quiserem ir para lado nenhum, para qualquer lado. São este seres que nos dizem nas horas de maior tristeza: "Telefona-me a qualquer hora que eu vou-te buscar". E isto é um espinho bom que nos fica cravado na alma para sempre.

Para o Óscar e para o Mário

Os ingelêses e os TLP no 207

"800 trabalhadores que a PT vais despedir! Oitocentos! Antes chamava-se TLP. Quarenta anos que eu trabalhei lá. Quarenta anos! Eram ingelêses. Uma maneira de falar delicada, uma educação. O falar, o trabalhar, o estar... Era muito grande a TLP. Muito grande que era a TLP.
A gente tem de saber estar atrás de um telefone a atender as pessoas. Eles ligavam e diziam - assim baixinho como eu estou a falar com a menina - "Bom dia, menina". Nunca mais me esquece da gargalhada de um ingelês quando eu disse "menino". "Ai quem me dera conhecer a menina que aí está do outro lado!". Que educação, que delicadeza, os ingelêses. Depois vieram os da PT com os telefones digitais... E eu, para mim, era matar-me. Gostava muito dos telefones manuais. Bonitos... A gente mexia-se com aqueles telefones... Pagavam-nos já na altura o 13º mês, não era assim que lhe chamavam, era o treze mês. Chegava à Páscoa pagavam o quatorze mês. E depois dividiam os lucros pelos funcionários! E a menina pensa que eles não tinham lucro mesmo assim? Dava ou não dava gosto trabalhar? E a gente trabalhava tanto...
Gosto em conhecê-la menina. De vez em quando é preciso recordar os tempos antigos"

quinta-feira, 13 de março de 2008

Peça da Fábrica de Cerâmica do Senhor d'Além em homenagem a um professor de Avintes




Não resisto a transcrever esta história ilustrativa do papel e estatuto dos professores noutros tempos:
"António de Oliveira Reis era professor primário oficial em Avintes, onde morava no lugar de Cabanões, na segunda metade do século XIX. Era severo na sua actividade docente. O filho de dum cerâmico local que trabalhava na Fábrica do Senhor d'Além, em Gaia, foi castigado pelo mestre e o pai quis homenagear o professor, oferecendo-lhe uma peça singular, embora sem marca. Na frente do cangirão, está o nome do professor, ladeado pelas coroas de Portugal e do Brasil. Na tampa a que só faltam dois suportes do quadro negro, encontram-se o menino choroso, o quadro negro, o compasso, o esquadro, a secretária, o tinteiro, o ponteiro, a palmatória, o livro e a pena de escrita."

LEÃO, Manuel - A Cerâmica em Vila Nova de Gaia. Fundação Manuel Leão, Vila Nova de Gaia, 1999. Vol. II, pag. 286

Graffiti em Granada 4


Graffiti em Granada 3


terça-feira, 4 de março de 2008

segunda-feira, 3 de março de 2008

Discussão conjugal

Dois corpos suspensos na Praça da Galiza. Olhos nos olhos. Olhos no infinito. Sussurros, palavras definitivas. Ombros imóveis. Adeus para sempre. Adeus até à próxima discussão.

Ensaios de Amor de Alain de Botton



Não posso transcrever partes porque teria que transcrever o livro na íntegra. Come-se à colherada numa tarde de Domingo. Obrigada Major Tom!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Snoopy




quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sou assim

Sou assim. O meu corpo é uma régua que regista os valores máximos de acidez e alcalinidade. Adoro e detesto coisas. Adoro e detesto pessoas.

Detesto ver pessoas que se superiorizam às outras por terem mais escola, dinheiro, coisas, amigos ou seja lá o que for;
Adoro quando as pessoas omitem ou não exibem estas “superioridades” e ouvem, falam, olham de igual forma para todos os seres humanos.

Detesto quando as pessoas agem como se fossem o centro do mundo, não tentando ver pelo olhar do outro, pôr-se no lugar do outro;
Adoro ver seres humanos que conseguem distanciar-se de si próprios, da sua visão, do seu lugar e colocar-se do outro lado, do outro, do estranho, do vizinho, do outro clube, do outro lado da fronteira, do outro lado do ser, do outro lado do mundo.

Detesto piadas à custa da “fraqueza” dos outros;
Adoro quando as pessoas, pelo contrário, habilmente mudam de assunto, brincam com as situações transformando uma situação de embaraço num momento simpático e de solidariedade.

Detesto a inveja;
Adoro a generosidade.

Detesto a frieza;
Adoro a amizade.

Detesto a característica de alguns seres humanos defenderem o seu sangue, a sua família como se existissem dois tipos de seres humanos: os que têm os seus genes e os que não têm;
Adoro quando as pessoas adoptam e ajudam desconhecidos, quando não têm medo do escuro e pessoas para quem o mundo é para correr.

Porque é que eu adoro e detesto?
Porque é que não me fico no meio termo de não sentir nada de especial, de não tomar partido, de não fazer opções?
Porque sou biliosa, nervosa, porque a minha mãe teve uma gravidez stressada, porque tenho excesso de testosterona?
Pode ser por tudo isto mas eu também quero ser assim. Ainda que corra o risco de ter inimigos. Porque os verdadeiros amigos também se fazem assim.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Que são vinte anos?

Vinte anos! Que são vinte anos?
Nós, ainda ontem éramos rapazes, ó velhos! Este «ontem» gastou vinte anos a resvalar para «hoje». Que se passou neste lapso fugitivo de nossa vida entre a juventude e a velhice? Nada. Temos a nosso lado filhos homens, e netos que amanhã serão homens; e, todavia, parece que ainda ontem com um raio de sol e com o perfume de uma rosa compúnhamos o sorriso da loira mãe destes homens, que está hoje velha! Ainda ontem éramos poetas pelo amor, afoitos pela aspiração, valentes pela mocidade. Que grandes coisas devem ter-se passado nesse instante de vinte anos, enquanto esperávamos outras que nunca vieram! A cismar sempre com o futuro não o víamos passar. Afinal parou; e deixou-se conhecer porque marchava pesado, tardio e triste: era a velhice. Chegou de repente; escureceu-se-nos tudo como se as alegrias nos fulgissem do seio de um relâmpago. Esta treva foi instantânea, e gastou vinte anos a condensar-se. Que são vinte anos?


Camilo Castelo Branco, Novelas do Minho I, O Comendador

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Natureza

Faz agora vinte anos, talvez, que ouvi esta música na rádio. Estavamos no tempo das cassetes e os cd's eram uma miragem bizarra de que se ouvia falar: "tipo os discos mas muito pequenos".
Tive tempo para ouvir a música no meu rádio/cassete - comprado com o part-time da Coats & Clark, primeiro emprego com o meu primeiro amor, vinte contos de fortuna dos meus quinze anos - e correr para buscar uma cassete onde ainda gravei os últimos versos.

Foi esta memória - porque entretanto perdi a cassete - que me permitiu ir perguntando pela música do Xangai, que eu pensava que se chamava "Hino à Natureza" mas que afinal se chama só "Natureza".

Como, passados vinte anos, estamos na era da internet a Joana - tão querida - encontrou a dita música que hoje me ofereceu.
É este presente que hoje quero partilhar convosco, se tiver habilidade suficiente para pôr uma música neste blog. Caso não tenha habilidade deixo a espantosa letra.


Xangai - Natureza

É o céu uma abóbada aureolada
Rodeada de gases venenosos
Radiantes planetas luminosos
Gravidade na cósmica camada
Galáxia também hidrogenada
Como é lindo o espaço azul-turquesa
E o sol fulgurante tocha acesa
Flamejando sem pausa e sem escala
Quem de nós pensaria apagá-la
Só o santo doutor da natureza
De tais obras, o homem e a mulher
São antigos e ricos patrimônios
Geram corpos em forma de hormônios
Criam seres sem dúvida sequer
O homem após esse mister
Perpetua a espécie com certeza
A mulher carinhosa e indefesa
Dá à luz uma vida, novo brilho
Nove meses no ventre aloja o filho
Pelo santo poder sã natureza
O peixe é bastante diferente
Ninguém pode entender como é seu gênio
Reservas porções de oxigênio
Mutações para o meio ambiente
Tem mais cartilagem resistente
Habitando na orla ou profundeza
Devora outros peixes pra despesa
E tem época do acasalamento
revestido de escamas esse elemento
Com a força da santa natureza
O poroquê ou peixe-elétrico é um tipo genuíno
Habitante dos rios e águas pretas
Com ele possui certas plaquetas
Que o dotam de um mecanismo fino
Com tal cartilagem esse ladino
Faz contato com muita ligeireza
Quem tocá-lo padece de surpresa
Descarga mortífera absoluta
Sua auto voltagem eletrocuta
Com os fios da santa natureza
Tartaruga gostosa, feia e mansa
Habitante dos rios e oceanos
Chegar aos quatrocentos anos
Pra ela é rotina, é confiança
Guarda ovos na areia e nen se cansa
De por eles zelar como defesa
Nascido os filhotes com presteza
Nas águas revoltas já se jogam
Por instinto da raça não se afogam
E pelo santo poder da natureza
O canário é pássaro cantor
Diferente de garça e pelicano
Papagaio, arara e tucano
Todos eles com majestosa cor
O gavião é um tipo caçador
E columbiforme é a burguesa
O aquático flamingo é da represa
A águia rapace agigantada
Eis o mundo das aves a passarada
Quanto é grande, poderosa e bela a natureza
A gazela, o antílope e o impala
A zebra e o alce felizardo
Não habitam em comum com o leopardo
O leão e o tigre-de-bengala
O macaco faz tudo mas não fala
Por atraso da espécie, por franqueza
Tem o búfalo aspecto de grandeza
O boi manso e o puma tão valente
Cada um de uma espécie diferente
Tudo isso é obra da natureza
Acho também interessante
O réptil de aspecto esquisito
O pequeno tamanho do mosquito
A tromba prênsil do elefante
A saliva incolor do ruminante
A mosca nociva e indefesa
A cobra que ataca de surpresa
Aplicar o veneno é seu mister
De uma vez mata trinta se puder
Mas isso é coisa da natureza
No nordeste há quem diga que o corão
Possui certos poderes encantados
Através de fenômenos variados
Prevê a mudança de estação
De fato no auge do verão
Ele entoa seu cântico de tristeza
De repente um milagre, uma surpresa
Cai a chuva benéfica e divina
Quem lhe diz, quem lhe mostra, quem lhe ensina?
Só pode ser o autor da natureza
Quem é que não sabe que o morcego
Com o rato bastante se parece
Nas cavernas escuras sobe e desce
Sugar sangue dos outros é seu emprego
Às noites escuras tem apego
Asqueroso ele é tenho certeza
Tem na vista sintoma de fraqueza
Porém o seu ouvido é muito fino
E um sonar aparelho pequenino
Que lhe deu o autor da natureza
Admiro a formiga pequenina
Fidalga inimiga da lavoura
No trabalho aplicado professora
Um exemplo de pura disciplina
Através das antenas se combina
Nos celeiros alheios faz limpeza
Formigueiro é a sua fortaleza
Onde cada uma delas tem emprego
Uma entra outra sai não tem sossego
Isso é coisa da santa natureza
A aranha pequena, tão arguta
De finíssimos fios faz a teia
Nesse mundo almoça, janta e ceia
É ali que passeia, vive e luta
Labirinto intrincado ela executa
Seu trabalho é bordado em qualquer mesa
Quem pensar destruir-lhe a fortaleza
Perderá de uma vez toda a esperança
Sua rede é autêntica segurança
Operária das mãos da natureza
A planta firmada no junquilho
Begônia, tulipa, margarida
As pedras riquíssimas da jazida
Com a cor, o valor, a luz, o brilho
A prata e o ouro cor de milho
O brilhante, a opala e a turquesa
A pérola das jóias da princesa
É difícil, valiosíssima e até
Alguém pensa ser vidro mas não é
É um milagre da santa natureza
O inseto do sono tsé-tsé
As flores gentis com seus narcóticos
As ervas que dão antibióticos
A mudança constante da maré
A feiúra real do caboré
no pavão é enorme a boniteza
Tem o lince visão e agudeza
E o cachorro finíssima audição
Vigilante mal pago do patrão
Isso é coisa da santa natureza?
A cigarra cantante dialoga
Através do seu canto intermitente
De inverno a verão canta contente
E a sua canção não sai da voga
Qualquer árvore é a sua sinagoga
Não procura comida pra despesa
Sua música sinônimo de tristeza
Patativa da seca é o seu nome
Se deixar de cantar morre de fome
Mas isso a gente sabe que é da natureza
___________________________________________________________________
Esta letra foi retirada do site Letras.mus.br