quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Snoopy




quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sou assim

Sou assim. O meu corpo é uma régua que regista os valores máximos de acidez e alcalinidade. Adoro e detesto coisas. Adoro e detesto pessoas.

Detesto ver pessoas que se superiorizam às outras por terem mais escola, dinheiro, coisas, amigos ou seja lá o que for;
Adoro quando as pessoas omitem ou não exibem estas “superioridades” e ouvem, falam, olham de igual forma para todos os seres humanos.

Detesto quando as pessoas agem como se fossem o centro do mundo, não tentando ver pelo olhar do outro, pôr-se no lugar do outro;
Adoro ver seres humanos que conseguem distanciar-se de si próprios, da sua visão, do seu lugar e colocar-se do outro lado, do outro, do estranho, do vizinho, do outro clube, do outro lado da fronteira, do outro lado do ser, do outro lado do mundo.

Detesto piadas à custa da “fraqueza” dos outros;
Adoro quando as pessoas, pelo contrário, habilmente mudam de assunto, brincam com as situações transformando uma situação de embaraço num momento simpático e de solidariedade.

Detesto a inveja;
Adoro a generosidade.

Detesto a frieza;
Adoro a amizade.

Detesto a característica de alguns seres humanos defenderem o seu sangue, a sua família como se existissem dois tipos de seres humanos: os que têm os seus genes e os que não têm;
Adoro quando as pessoas adoptam e ajudam desconhecidos, quando não têm medo do escuro e pessoas para quem o mundo é para correr.

Porque é que eu adoro e detesto?
Porque é que não me fico no meio termo de não sentir nada de especial, de não tomar partido, de não fazer opções?
Porque sou biliosa, nervosa, porque a minha mãe teve uma gravidez stressada, porque tenho excesso de testosterona?
Pode ser por tudo isto mas eu também quero ser assim. Ainda que corra o risco de ter inimigos. Porque os verdadeiros amigos também se fazem assim.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Que são vinte anos?

Vinte anos! Que são vinte anos?
Nós, ainda ontem éramos rapazes, ó velhos! Este «ontem» gastou vinte anos a resvalar para «hoje». Que se passou neste lapso fugitivo de nossa vida entre a juventude e a velhice? Nada. Temos a nosso lado filhos homens, e netos que amanhã serão homens; e, todavia, parece que ainda ontem com um raio de sol e com o perfume de uma rosa compúnhamos o sorriso da loira mãe destes homens, que está hoje velha! Ainda ontem éramos poetas pelo amor, afoitos pela aspiração, valentes pela mocidade. Que grandes coisas devem ter-se passado nesse instante de vinte anos, enquanto esperávamos outras que nunca vieram! A cismar sempre com o futuro não o víamos passar. Afinal parou; e deixou-se conhecer porque marchava pesado, tardio e triste: era a velhice. Chegou de repente; escureceu-se-nos tudo como se as alegrias nos fulgissem do seio de um relâmpago. Esta treva foi instantânea, e gastou vinte anos a condensar-se. Que são vinte anos?


Camilo Castelo Branco, Novelas do Minho I, O Comendador

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Natureza

Faz agora vinte anos, talvez, que ouvi esta música na rádio. Estavamos no tempo das cassetes e os cd's eram uma miragem bizarra de que se ouvia falar: "tipo os discos mas muito pequenos".
Tive tempo para ouvir a música no meu rádio/cassete - comprado com o part-time da Coats & Clark, primeiro emprego com o meu primeiro amor, vinte contos de fortuna dos meus quinze anos - e correr para buscar uma cassete onde ainda gravei os últimos versos.

Foi esta memória - porque entretanto perdi a cassete - que me permitiu ir perguntando pela música do Xangai, que eu pensava que se chamava "Hino à Natureza" mas que afinal se chama só "Natureza".

Como, passados vinte anos, estamos na era da internet a Joana - tão querida - encontrou a dita música que hoje me ofereceu.
É este presente que hoje quero partilhar convosco, se tiver habilidade suficiente para pôr uma música neste blog. Caso não tenha habilidade deixo a espantosa letra.


Xangai - Natureza

É o céu uma abóbada aureolada
Rodeada de gases venenosos
Radiantes planetas luminosos
Gravidade na cósmica camada
Galáxia também hidrogenada
Como é lindo o espaço azul-turquesa
E o sol fulgurante tocha acesa
Flamejando sem pausa e sem escala
Quem de nós pensaria apagá-la
Só o santo doutor da natureza
De tais obras, o homem e a mulher
São antigos e ricos patrimônios
Geram corpos em forma de hormônios
Criam seres sem dúvida sequer
O homem após esse mister
Perpetua a espécie com certeza
A mulher carinhosa e indefesa
Dá à luz uma vida, novo brilho
Nove meses no ventre aloja o filho
Pelo santo poder sã natureza
O peixe é bastante diferente
Ninguém pode entender como é seu gênio
Reservas porções de oxigênio
Mutações para o meio ambiente
Tem mais cartilagem resistente
Habitando na orla ou profundeza
Devora outros peixes pra despesa
E tem época do acasalamento
revestido de escamas esse elemento
Com a força da santa natureza
O poroquê ou peixe-elétrico é um tipo genuíno
Habitante dos rios e águas pretas
Com ele possui certas plaquetas
Que o dotam de um mecanismo fino
Com tal cartilagem esse ladino
Faz contato com muita ligeireza
Quem tocá-lo padece de surpresa
Descarga mortífera absoluta
Sua auto voltagem eletrocuta
Com os fios da santa natureza
Tartaruga gostosa, feia e mansa
Habitante dos rios e oceanos
Chegar aos quatrocentos anos
Pra ela é rotina, é confiança
Guarda ovos na areia e nen se cansa
De por eles zelar como defesa
Nascido os filhotes com presteza
Nas águas revoltas já se jogam
Por instinto da raça não se afogam
E pelo santo poder da natureza
O canário é pássaro cantor
Diferente de garça e pelicano
Papagaio, arara e tucano
Todos eles com majestosa cor
O gavião é um tipo caçador
E columbiforme é a burguesa
O aquático flamingo é da represa
A águia rapace agigantada
Eis o mundo das aves a passarada
Quanto é grande, poderosa e bela a natureza
A gazela, o antílope e o impala
A zebra e o alce felizardo
Não habitam em comum com o leopardo
O leão e o tigre-de-bengala
O macaco faz tudo mas não fala
Por atraso da espécie, por franqueza
Tem o búfalo aspecto de grandeza
O boi manso e o puma tão valente
Cada um de uma espécie diferente
Tudo isso é obra da natureza
Acho também interessante
O réptil de aspecto esquisito
O pequeno tamanho do mosquito
A tromba prênsil do elefante
A saliva incolor do ruminante
A mosca nociva e indefesa
A cobra que ataca de surpresa
Aplicar o veneno é seu mister
De uma vez mata trinta se puder
Mas isso é coisa da natureza
No nordeste há quem diga que o corão
Possui certos poderes encantados
Através de fenômenos variados
Prevê a mudança de estação
De fato no auge do verão
Ele entoa seu cântico de tristeza
De repente um milagre, uma surpresa
Cai a chuva benéfica e divina
Quem lhe diz, quem lhe mostra, quem lhe ensina?
Só pode ser o autor da natureza
Quem é que não sabe que o morcego
Com o rato bastante se parece
Nas cavernas escuras sobe e desce
Sugar sangue dos outros é seu emprego
Às noites escuras tem apego
Asqueroso ele é tenho certeza
Tem na vista sintoma de fraqueza
Porém o seu ouvido é muito fino
E um sonar aparelho pequenino
Que lhe deu o autor da natureza
Admiro a formiga pequenina
Fidalga inimiga da lavoura
No trabalho aplicado professora
Um exemplo de pura disciplina
Através das antenas se combina
Nos celeiros alheios faz limpeza
Formigueiro é a sua fortaleza
Onde cada uma delas tem emprego
Uma entra outra sai não tem sossego
Isso é coisa da santa natureza
A aranha pequena, tão arguta
De finíssimos fios faz a teia
Nesse mundo almoça, janta e ceia
É ali que passeia, vive e luta
Labirinto intrincado ela executa
Seu trabalho é bordado em qualquer mesa
Quem pensar destruir-lhe a fortaleza
Perderá de uma vez toda a esperança
Sua rede é autêntica segurança
Operária das mãos da natureza
A planta firmada no junquilho
Begônia, tulipa, margarida
As pedras riquíssimas da jazida
Com a cor, o valor, a luz, o brilho
A prata e o ouro cor de milho
O brilhante, a opala e a turquesa
A pérola das jóias da princesa
É difícil, valiosíssima e até
Alguém pensa ser vidro mas não é
É um milagre da santa natureza
O inseto do sono tsé-tsé
As flores gentis com seus narcóticos
As ervas que dão antibióticos
A mudança constante da maré
A feiúra real do caboré
no pavão é enorme a boniteza
Tem o lince visão e agudeza
E o cachorro finíssima audição
Vigilante mal pago do patrão
Isso é coisa da santa natureza?
A cigarra cantante dialoga
Através do seu canto intermitente
De inverno a verão canta contente
E a sua canção não sai da voga
Qualquer árvore é a sua sinagoga
Não procura comida pra despesa
Sua música sinônimo de tristeza
Patativa da seca é o seu nome
Se deixar de cantar morre de fome
Mas isso a gente sabe que é da natureza
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Esta letra foi retirada do site Letras.mus.br