domingo, 23 de março de 2008

Há de tudo em todo o lado

Que melhor expressão que esta para exprimir que independentemente:
da classe social
do país
da religião
da cultura
do sexo
do partido
da cor da pele
da orientação sexual
da profissão
do bairro

(complete a lista, por favor)

se encontrarem pessoas

grandes
belas
inteligentes
honestas
rigorosas
imparciais
solidárias

(complete a lista, por favor)

Ou
trafulhas
arrogantes
mesquinhas
desonestas
egoístas
pequenas...

E a prova disto é frase tão inteligente andar na boca de tanta gente, independentemente

da classe social
cultura
escolaridade
sexo
orientação sexual...

terça-feira, 18 de março de 2008

Nesta casa há buracos!

Engana-se quem diz, quado se perde alguma coisa, "Nesta casa não há buracos!". Em quase todas as casas há buracos.
Uma vez ia a entrar na cozinha e cai-me um quatro e um sete do tamanho de berlindes. Ontem, quando desmontava um forro debaixo das escadas que dão para o sotão, apareceu-me um cromo de D. Afonso Henriques suspenso por uma fina teia. Um quatro, um sete e D. Afonso Henriques... Há que saber interpretar os sinais.
Numa casa antiga há sempre buracos de onde caem objectos e buracos para onde saltam objectos. Engana-se também quem disser que os objectos não são seres vivos. São seres vivos e têm personalidades bem diferentes. Há estes que se divertem a circular no tempo. Desaparecendo da vida de umas pessoas e aparecendo na vida de outras. São os livres. E há os melgas. Aqueles dos quais não gostamos e que não desaparecem da nossa vida. Abrimos o guarda-jóias e lá está aquele brinco de feira de artesanato foleira a suplicar: "Usa-me..." "Não!". Ou aquela BIC que nos acompanha há doze anos, eternamente em fim de carga e que aparece de cada vez que se abre uma gaveta. Provavelmente a única responsável pelo inexplicável desaparecimento da nossa caneta preferida que guardamos religiosamente num local seguro.
Passo a semana em obras, na luta anti-buraco, mas fico com pena de aprisionar os objectos no tempo.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Elliot Erwitt


Basta colocar o nome do meu fotógrafo preferido no google imagens e fico a ler durante uma manhã gente de todo o mundo!

Matemática

Aos 17 anos namorei com um rapaz de 34. Pensava com ele perder para sempre 17 anos de vida. E acho que envelheci aos 17 anos mais 17 anos. E perdi 17 anos. Morri e voltei a nascer. Nestes 17 anos que passaram, recuperei 17 anos da minha vida. Aos 34 anos namorava com um rapaz de 34 anos.

34-17=17+17=34-17=17+17=34-34=0

Dizem que o cosmos está organizado de acordo com leis matemáticas ou que a organização dos cosmos é traduzível para linguagem matemática... Eu sempre tive 1 a matemática. Alguém me sabe dizer se as minhas contas estão certas?
E, já agora, que significa esse zero?

domingo, 16 de março de 2008

Morada Aberta

Eu também já fui essa menina pela mão da sua mãe a ir à bruxa. Entrando num lugar desconhecido, tendo medo até de subir umas escadas como se, de repente, elas pudessem conduzir ao céu ou ao inferno, ali, na Praça da Batalha.

Vem-me buscar

Há uma categoria de seres humanos na qual eu não me incluo. Uma espécie de homens-mulheres-anjos. Não são os seres bondosos clássicos empoeirados de musica celestial que apenas dizem palavras meigas. São seres capazes de adoptar seres em sofrimento, que se aproximam deles no momento em que os outros se afastam.
Fazem-lhes mimos, levantam-nos do chão e levam-os às cavalitas para onde quer que eles queiram ir ou, se eles não quiserem ir para lado nenhum, para qualquer lado. São este seres que nos dizem nas horas de maior tristeza: "Telefona-me a qualquer hora que eu vou-te buscar". E isto é um espinho bom que nos fica cravado na alma para sempre.

Para o Óscar e para o Mário

Os ingelêses e os TLP no 207

"800 trabalhadores que a PT vais despedir! Oitocentos! Antes chamava-se TLP. Quarenta anos que eu trabalhei lá. Quarenta anos! Eram ingelêses. Uma maneira de falar delicada, uma educação. O falar, o trabalhar, o estar... Era muito grande a TLP. Muito grande que era a TLP.
A gente tem de saber estar atrás de um telefone a atender as pessoas. Eles ligavam e diziam - assim baixinho como eu estou a falar com a menina - "Bom dia, menina". Nunca mais me esquece da gargalhada de um ingelês quando eu disse "menino". "Ai quem me dera conhecer a menina que aí está do outro lado!". Que educação, que delicadeza, os ingelêses. Depois vieram os da PT com os telefones digitais... E eu, para mim, era matar-me. Gostava muito dos telefones manuais. Bonitos... A gente mexia-se com aqueles telefones... Pagavam-nos já na altura o 13º mês, não era assim que lhe chamavam, era o treze mês. Chegava à Páscoa pagavam o quatorze mês. E depois dividiam os lucros pelos funcionários! E a menina pensa que eles não tinham lucro mesmo assim? Dava ou não dava gosto trabalhar? E a gente trabalhava tanto...
Gosto em conhecê-la menina. De vez em quando é preciso recordar os tempos antigos"

quinta-feira, 13 de março de 2008

Peça da Fábrica de Cerâmica do Senhor d'Além em homenagem a um professor de Avintes




Não resisto a transcrever esta história ilustrativa do papel e estatuto dos professores noutros tempos:
"António de Oliveira Reis era professor primário oficial em Avintes, onde morava no lugar de Cabanões, na segunda metade do século XIX. Era severo na sua actividade docente. O filho de dum cerâmico local que trabalhava na Fábrica do Senhor d'Além, em Gaia, foi castigado pelo mestre e o pai quis homenagear o professor, oferecendo-lhe uma peça singular, embora sem marca. Na frente do cangirão, está o nome do professor, ladeado pelas coroas de Portugal e do Brasil. Na tampa a que só faltam dois suportes do quadro negro, encontram-se o menino choroso, o quadro negro, o compasso, o esquadro, a secretária, o tinteiro, o ponteiro, a palmatória, o livro e a pena de escrita."

LEÃO, Manuel - A Cerâmica em Vila Nova de Gaia. Fundação Manuel Leão, Vila Nova de Gaia, 1999. Vol. II, pag. 286

Graffiti em Granada 4


Graffiti em Granada 3


terça-feira, 4 de março de 2008

segunda-feira, 3 de março de 2008

Discussão conjugal

Dois corpos suspensos na Praça da Galiza. Olhos nos olhos. Olhos no infinito. Sussurros, palavras definitivas. Ombros imóveis. Adeus para sempre. Adeus até à próxima discussão.

Ensaios de Amor de Alain de Botton



Não posso transcrever partes porque teria que transcrever o livro na íntegra. Come-se à colherada numa tarde de Domingo. Obrigada Major Tom!