sexta-feira, 2 de maio de 2008

Hoje na aula de yoga o professor disse: Nesta posição o corpo tende a tremer, mas não liguem, é só o vosso corpo não são vocês. Tarde de mais porque eu já tinha cedido e baixado pensando que eu e ele éramos um só.
Mas eu sempre soube que não. Que aquele joelho que esfolei na viela a vir da escola não era meu. Que o meu corpo é um pacote dentro do qual me encontro presa. Fui crescendo assim, com o meu corpo a fugir de mim, comigo a fugir do meu corpo. E sempre a pensar “Porque é que eu sou eu e não tu?” Porque é que eu nasci aqui e não ali? Porque é que eu sou a Teresa e não a Xanda, a Tété, o Pieta, o Piriquito, a Guidinha das Malhas, a Rojona, o Zé Maluco, a Ana Maria, A Bela, o Paulinho, a Agostinha, o meu irmão Miguel, o meu irmão João, a minha prima Zeza ou outro qualquer dessas dezenas de primos?
O meu corpo ginga e eu ando lá dentro aos trambolhões. O meu corpo olha para mim e acha-me estranha. Sempre culpada e comprometida com qualquer coisa que ele fez. Um corpo estranho dentro de mim, uma estranha dentro do meu corpo.
Ultimamente comecei a maltratá-lo. Dou-lhe tabaco, mando-o pegar numa trincha e pintar uma casa inteira, obrigo-o a trabalhar dez horas num dia. Não lhe dou roupa nova.
E ele que só queria prazer… E eu que só queria esquecer-me dele para sempre.

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